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Viagens por dentro dos dias

Blog em torno de literatura, arte, viagens, etc.

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28.04.24

Cada viajante constrói, das cidades que ama, uma ideia que raramente coincide com a lógica da geografia urbana. Na sua forma de amar uma cidade, desenha percursos, associações imaginárias, mitos instrumentais que o fazem ver as fachadas, os monumentos, as praças e as gentes de uma determinada zona como os melhores sinais identificadores do espírito do lugar. A sua noção de geografia é essencialmente afetiva, as suas preferências não são racionais e, por isso, essa zona eleita figura no seu espírito, e para sempre, como  o centro da cidade.

António Mega Ferreira in Roma, exercícios de reconhecimento, 2.ª ed., Sextante Editora, 2019


25.04.24

O Mediterrâneo é a pátria da beleza. Mar, oliveiras, ruínas, portos, faróis antigos, ilhas, mitos, navios - e uma raríssima sabedoria.

in contracapa do livro de MATVEJEVITCH, Predrag, Breviário Mediterrâneo, Quetzal Editores, 2019


11.03.24

Um dia, já lá vão muitos anos, uma professora portuguesa de uma escola próximo de Ourense, convidou-me para uma Festa Literária dedicada aos jovens, numa escola em que era professora, que decorrerira num fim-de-semana numa localidade perto daquela cidade Galega. Trocámos correspondência (ainda não havia emails nem telemóveis) acerca de alguns dos meus livros infanto-juvenis e ela até me falou que contavam também com a presença de Alice Vieira, que nessa época começava a ser muito conhecida devido ao seu livro "Rosa, Minha Irmã Rosa".

No sábado indicado, ao romper da aurora meto-me no carro com a minha mulher e lá fomos corresponder ao amável convite. A meio da manhã, centenas de quilómetros depois, chegámos à localidade galega. Estacionei o automóvel e procurei pelo colégio e pela professora. O colégio estava encerrado, da professora não havia rasto (vivia em Portugal, no Minho), e de Festa Literária na aldeia ninguém sabia. De Alice Vieira também não. Estava um dia esplêndido. Não me senti enganado, eu conhecia a professora, mas a verdade é que algo correra mal. Aproximava-se a hora de almoço. Encontrámos um restaurante familiar com uma agradável ementa, a começar por uma cativante tábua de queijos. Depois do almoço, metemo-nos no automóvel e regressámos a Lisboa como se fosse logo ali ao lado. A despesa foi grande, mas eu corria por gosto. Não me lembro, hoje, com exatidão, qual foi a explicação que a professora me deu, mais tarde, quando a interpelei um pouco aborrecido. Teria tido a ver com a alteração da data da Festa Literária e alguém se esquecera de me avisar. Foi a partir daí que comecei a perceber que trabalhar de borla saía caro.


29.09.22

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O escritor António Mega Ferreira ganhou o Grande Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga, patrocinado pela APE, com o seu livro Crónicas Italianas, publicado em 2021 com a chancela da Sextante Editora, onde publicou também as obras a seguir referidas. Viajante cultural, profundo conhecedor da vida e da história da cultura italiana, este livro junta-se a outras obras (Roma, exercícios de reconhecimento, 2010; e Itália, Práticas de Viagem, 2017) em que o autor explora a relação da arte e da arquitetura italiana, ao longo dos séculos, com os seus artistas e com as cidades italianas, seja Roma Florença, Bolonha, etc. Uma leitura a não perder.


23.09.22

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Não me recordo do local onde o navio atracou. Mas lembro-me bem de ser transportado para o centro da cidade em autocarro. A primeira impressão que colhi foi o cinzento escuro dos edifícios baixos, de pedra, com a patine de séculos. Isto e um tremendo céu escuro que parecia vir abater-se sobre nós. Era domingo e a cidade estava deserta. Não chovia, mas havia uma promessa de que isso pudesse acontecer a qualquer momento. Perguntei-me que tipo de vida podiam levar as cerca de sete mil pessoas que habitam na cidade, embora a população da ilha ultrapassa os vinte mil moradores. A pesca deve ser uma das principais ocupações profissionais. A cidade parece ter sido construída em torno de Fort Charlotte em meados do século XVII. Para mim, nesse domingo, a motivação maior era procurar os lugares onde decorreu parte da série policial britânica “Shetland“. E lá encontrei, por exemplo, a esquadra de polícia onde supostamente trabalhava o inspector Jimmy Perez (Douglas Hanshall) que liderava a série. Achei também curiosa a transformação de uma igreja em biblioteca pública. À excepção de uma pequena papelaria aberta para receber os turistas, pouco mais havia a funcionar. Era domingo, relembro, numa pequena cidade da ilha principal. Edimburgo fica a 480 Km de distância, na Escócia. Preferia ter visitado a cidade num dia que não o domingo, e que tivesse recebido a graça de um pouco de sol, mas ainda assim valeu a pena.

Fotos: 1.ª A esquadra de polícia da série televisiva "Shetland" que julgo ser o edifício da verdadeira esquadra; 2.ª Igreja transformada em biblioteca pública; 3.ª A Geometria da Guerra dentro do Fort Charlotte; 4.ª O interior do Fort Charlotte. 5.ª Uma imagem de Lerwick. 


15.10.21

Os aviões transformaram-se no transporte público do povo de havaiana nos pés e mochila às costas. Todos apertadinhos como sardinha em lata. As refeições são agora sandochas e sumos nas viagens de médio curso. É aquilo que o pessoal gosta, habituado a lambuzar-se com hambúrgueres carregados de ketchup e maionese. O lombo, o rosbife, só faz mal. Boa viagem.


25.09.21

Coziam os coiros das arcas por não se poderem manter; e sobre a fome, a água que bebiam era meio salobra e tão barrenta dos enxurros das crescentes que traziam os rios naquela invernada, que não assentava o pé em dous dias, e isto porque não havia aguada que os mouros não tivessem tomada; e se às vezes os nossos à força de armas a queriam ir fazer, uma gota de água custava três de sangue.

Transcrição de aspetos das viagens dos descobrimentos in "O Murmúrio do Mundo" (A Índia Revisitada), de Almeida Faria, Tinta da China, Lisboa, 2012


31.08.21

Não sabemos ao certo até onde vai o Mediterrâneo, nem que parte do litoral ocupa, nem onde acaba, tanto em terra como no mar. Para os gregos, de leste para oeste, estendia-se do Fásis, no Cáucaso, até às Colunas de Hércules; consideravam implícita a sua fronteira natural a norte e às vezes não se preocupavam com os seus limites a sul. Os sábios da antiguidade ensinavam que os confins do Mediterrâneo se situam onde a oliveira se detém. Nem sempre, nem em toda a parte é assim: há lugares na costa que não são marítimos, ou que o são menos que outros, mais afastados dela. Há lugares em que o continente não se alia ao mar, em que se revela difícil a concordância entre eles. Noutros pontos, o caráter mediterrânico abrange mais vastas porções do continente, penetra-as mais com a sua influência. O Mediterrâneo não é apenas uma geografia.

MATVEJEVITCH, Pedrag in "Breviário Mediterrânico", Quetzal Editores, Lisboa, 2019

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