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Viagens por dentro dos dias

Blog em torno de literatura, arte, viagens, etc.

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Querubim, o filho da puta

Entrada inicial

12.10.22

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CAPÍTULO 1

Esta é a estória do meu relacionamento com Malvina Bleck que conheci numa esplanada em Annecy, França, num dia de céu de aguarela com tonalidades de azul, pinceladas de zarcão e ouro. Tinha ido até ao lago roubar umas horas ao Sol, após o que regressei ao centro da cidade sem um fim definido. Se me perguntassem quem eu era, diria ser um jovem com a alma desformatada, a navegar à bolina da vida, de idade próxima à de Malvina, e o coração a pedir uma boleia de amor a qualquer mulher disponível. Mas antes de falar de Malvina, de falar de nós, terei de recuar à pré-história da minha existência.

04.10.22

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Ali, atrás da porta, está um novo livro a querer entrar na vida das pessoas. Sou o Querubim, diz ele. Posso entrar? Foi a editora que me mandou ter contigo. Está bem. Aguarda um pouco que agora estou ocupado a tratar da tua receção. Não me disseste que o teu nome era João dos Passos? E sou. Mas em miúdo tratavam-me por Querubim. Não te lembras? Lembro. Tem paciência, aguarda um pouco.

Pergunta o Pinóquio

Ainda não leram este livro? Eu já. Não notam o meu nariz a crescer?

28.07.22

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Romance. "Nos anos 30 do século xx, em pleno consulado de Salazar, a morte inesperada do Professor Cartago, um latifundiário alentejano, arqueólogo amador com trabalhos de campo na cidade romana de Ammaia (Aramenha/Marvão), levanta dúvida aos seus filhos. O Professor é uma figura próxima do regime vigente na época, lavrador rico, viúvo recente, pessoa discreta de parcas palavras e gestos.» (Da badana do livro). Mais informações aqui.

 

29.01.22

A noite iluminou-se com a luz de mil archotes. Era dia sendo noite. Uma chuva de estrelas desabou sobre a minha cabeça evocando uma cascata de fogo-de-artifício. Não foi alegria o que senti, mas um repentino e inexplicável aperto no peito, um sufoco de adeus-vida. Algo de muito grave estava a acontecer e eu não o podia impedir, nem fugir. A cidade já sofrera, séculos atrás, um abalo devastador, que a reduzira a cinzas e a pó. Nos meus ouvidos repercutiam-se os gritos aflitivos dos sobreviventes. O receio de que a tragédia se estivesse a re- petir roubou-me o discernimento. Senti-me perdido num mundo em derrocada. minutos depois, compreendi que estava apenas a acordar de um sonho agitado após uma noite de insónia. Olhei para o teto das águas-furtadas com um olho fechado e o outro aberto, tirando a prova dos nove à realidade. O estuque estava no seu lugar e o mundo também. Senti um forte desejo de tomar uma chávena de café, aromá- tico e fumegante. Era urgente acordar. Sou muito lento a reagir pela manhã. Preciso de algum tempo de adaptação antes de poder desafiar o sol e explorar a vida.

António Garcia Barreto in "O Discreto Cavalheiro", romance, Prémio Literário Orlando Gonçalves 2021, patrocinado pela CM de Amadora. Em fase de produção. Âncora Editora

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