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Viagens por dentro dos dias

Blog sobre tudo e sobre nada. Em particular, em torno de literatura, arte, viagens.

Blog sobre tudo e sobre nada. Em particular, em torno de literatura, arte, viagens.

Xicuembo

xicuembo = feitiço / suruma = mel


02.03.25

 

01-1.jpg

eu bebeu suruma
dos teus ólho Ana Maria.
eu bebeu suruma
e ficou mesmo maluco

agora eu quer dormir quer comer
mas não pode mais dormir
mas não pode mais comer

suruma dos teus ólho Ana Maria
matou sossego no meu coração
oh matou sossego no meu coração

eu bebeu suruma oh suruma suruma
dos teus ólho Ana Maria
com meu todo vontade
com meu todo coração

e agora Ana Maria minhamor
eu não pode mais viver
eu não pode mais saber
que meu Ana Maria minhamor
é mulher de todo gente
é mulher de todo gente
todo gente todo gente

menos meu minhamor
 
RUI NOGAR (1932-1993)
(pseudónimo do poeta moçambicano Francisco Rui Moniz Barreto)

Estrangeiro

Eduardo Galeano, escritor uruguaio


30.01.25

ESTRANGEIRO

images.jpegO teu Deus é judeu
A tua música é negra
O teu carro é japonês
A tua pizza é italiana
O teu gás é argelino
O teu café é brasileiro
A tua democracia é grega
Os teus números são árabes
As tuas letras são latinas
Eu sou teu vizinho e
ainda me chamas de estrangeiro?


EDUARDO GALEANO, jornalista e escritor uruguaio (1940-2015)


01.01.25

Esta velha angústia

retrato2.jpg

Deu lugar a um novo arranjo,

E eu que não sou um anjo

Ou só um anjo caído

Um monstro ferido

Coxo e moído

Que sou como sou

Como quem é

Como é…

Eu…

Hei-de morrer pelo meu pé.

Paulo Anes in Parto de Fé, Caravela Edições, 2019


07.12.24

Para curar Ana Lopes,

A dois médicos chamei.

Um lhe deu xarope de Rei,

Outro, o Rei dos xaropes.


D. Tomás de Noronha (séc XVI-XVII).

Fidalgo da alta nobreza, sem redimentos condignos, dissipador, estróina, viveu sempre às portas da miséria. Conhecido pelo apodo de Marcial de Alenquer, deixou-nos exemplos de textos ricos em alusões ao mundo social entre o qual vivia.


02.12.24

Quando a pátria que temos não a temos

Perdida por silêncio e por renúncia

Até a voz do mar se torna exílio

E a luz que nos rodeia é como grades

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Livro Sexto

Viver sempre também cansa

José Gomes Ferreira


29.11.24

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O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase verde…
Mas nunca tem a cor inesperada.

O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens não se transformam
Não cai neve vermelha
Não há flores que voem,
A lua não tem olhos
Ninguém vai pintar olhos à lua

Tudo é igual, mecânico e exato

Ainda por cima os homens são os homens
Soluçam, bebem riem e digerem
sem imaginação.

E há bairros miseráveis sempre os mesmos
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe
automóveis de corrida…

E obrigam-me a viver até à morte!

Pois não era mais humano
Morrer por um bocadinho
De vez em quando
E recomeçar depois
Achando tudo mais novo?

Ah! Se eu pudesse suicidar-me por seis meses
Morrer em cima dum divã
Com a cabeça sobre uma almofada
Confiante e sereno por saber
Que tu velavas, meu amor do norte.

Quando viessem perguntar por mim
Havias de dizer com teu sorriso
Onde arde um coração em melodia
Matou-se esta manhã
Agora não o vou ressuscitar
Por uma bagatela

E virias depois, suavemente,
velar por mim, sutil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo…

JOSÉ GOMES FERREIRA

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