Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Viagens por dentro dos dias

Blog em torno de literatura, arte, viagens, etc.

Blog em torno de literatura, arte, viagens, etc.

O Primo Basílio está de regresso

Podem encontrá-lo na FNAC e em outras livrarias

02.08.23

Captura de ecrã 2023-08-02, às 14.44.07.png

Imaginem-se na pele de um livreiro que mediou a venda de um exemplar da 1.ª edição, de 1878, de «O Primo Basílio», a célebre obra de Eça de Queiroz, por elevado valor. No processo de transporte da obra entre a casa do vendedor, o conde Wenceslau, e a morada do comprador, um bibliófilo conhecido do livreiro, a cargo de um empresa de estafetas, a obra desapareceu. Não só a obra, como o estafeta, o capacete e a moto em que se fazia transportar. Tudo levou sumiço, como que tragado por um grande buraco na floresta de prédios da cidade.
Afonso Pardo, o livreiro, decidiu então contratar os serviços do detetive privado Eneias Trindade, no sentido de recuperar o livro. Ou arriscava-se a pagar o elevado valor reclamado pelo comprador, que entretanto liquidou a obra ao conde Wenceslau.
Devem estar a pensar como conseguiu o detetive resolver a questão, Verdadeiramente, não a resolveu. Ou talvez sim. Pelo menos deu os passos necessários nesse sentido. O resultado até a ele surpreendeu. E a mim, também. Leiam o livro. Está lá tudo.

A propósito do romance

Querubim, o Filho da Puta

18.07.23

Capa_Querubim 15x23_FINAL.jpeg

Leitura em Dia, uma sugestão literária da Rádio Universitária do Minho, com o apoio do DST Grupo. (Transcrição do podcast que pode também ser ouvido em: https://rum.pt/shows/leitura-em-dia) com referência à data de 23/06/2023.
 
Sugestão dos profissionais da rádio: António Ferreira e Sérgio Xavier.
.
Para hoje temos um romance intitulado Querubim, o Filho da Puta. É da autoria de António Garcia Barreto. A edição é da Guerra e Paz. Este exemplo, esta sugestão de leitura para este tempo, para este verão, dá pretexto para confirmar e ver o seguinte: como é a vida literária e editorial em Portugal. Alguém procura este autor? Alguém lê este autor? Tirando talvez os amigos e os familiares poucos conhecerão António Garcia Barreto. Serve para dizer que o meio editorial português todo ele é feito de pecadilhos, pequenas invejas, rancores, esquecimentos, velocidade, tudo adiante que atrás vem gente e este já não interessa, é descartável. Mas se vos disser que este é um dos casos de maior injustiça e apagamento que se fez nos últimos anos em Portugal; o desinteresse total por um autor é algo a bradar quase ao vento ou aos céus.
(…)
António Garcia Barreto teve livros importantes sobre a literatura infanto-juvenil, os ensaios, livros maravilhosos, encantadores e encantatórios para os mais novos, na Ambar, na editorial Ambar, e depois também excelentes romances, bons romances em outras chancelas, como é o caso da Campo das Letras, mas já lá iremos. António Garcia Barreto, ele nasceu na Amadora em 1948, no dia 15 de dezembro, é licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, esteve como militar na guerra colonial, foi livreiro, gestor de recursos humanos e diretor de pessoal. Colaborou com vários jornais, o Notícias de Lourenço Marques, o Diário Popular, o República e também nos suplementos O Pimpão e O Pontinho, daqui o seu gosto pela literatura infanto-juvenil. Esteve nos anos 80 na criação e dirigiu A Oficina do Tio Lunetas, no Notícias da Amadora, um suplemento também para os mais novinhos, se quisermos. O seu conto O Minuto Mágico foi distinguido no Prémio Literário Hernâni Cidade, da C.M. do Redondo, e na Campo das Letras - e aqui estamos nós em 2005 - o romance Ensina-me a Namorar. E em 2006, sobre a guerra colonial, o romance À Sombra das Acácias Vermelhas. Tem já deste ano de 2023, O Regresso do Primo Basílio. Este é um policial.
(…)
João do Passos (protagonista de Querubim, o Filho da Puta) está em França, mais precisamente em Annecy, e embate de frente com Malvina Bleck, uma suposta hospedeira de bordo. A mala que arrasta Malvina Bleck é de uma empresa ou de uma grande transportadora aérea. Malvina convida João dos Passos para Londres. O nosso amigo hesita bastante, mas o canto da sereia é tão afinado e melodioso, para além dos ouvidos rebenta-lhe com o cérebro e com o coração. E ele vai, vai, e é a partir daqui, do mundo da criminalidade, o mundo daquilo que são os negócios mais obscuros e escuros da arte em Lisboa, vai perceber qual é a sua missão, o papel que terá de desempenhar João dos Passos junto de Malvina, porque também é fácil de perceber, que quadros e esculturas não cabem na mala da nossa hospedeira. E é aí que entra o coração, o amor, e o amor quando entra, como se sabe, ai, ai, que são elas, e a casa começa a abanar e de que maneira.
A afirmação de um excelente autor, descubram-no aqueles que não o conhecem. Quem conhece, esperemos que haja alguém, aprecie esta escrita maravilhosa num português escorreito e em alta velocidade, que, garanto-vos, depois da primeira página é de um folgo só. Uma maravilha.

17.07.23

IMG_1765.jpeg

O rapaz ia pela rua a mastigar pastilha elástica. Entrou na farmácia para levantar o medicamento para a avó. De repente, a pastilha colou-se-lhe ao céu-da-boca e à língua. Não conseguia abrir a boca, não conseguia falar. Fez um gesto para o velho farmacêutico, apontando a língua presa. O homem procurou os óculos de ver ao perto, mas não os encontrou. Aproximou-se do rapaz, meteu-lhe os dedos na boca e arrancou-lhe a língua.

© António Garcia Barreto in "Histórias de Bolso"

08.07.23

Dois amigos, um poeta e o outro bombeiro, reencontraram-se ao fim de algum tempo. Sentaram-se na esplanada de um café rememorando passados. Até que o poeta perguntou com um leve sorriso trocista:

— O que fazer quando tudo arde?

— Apagar o fogo — respondeu o bombeiro com uma certeza inabalável.

(António Garcia Barreto, Microcontos)

24.06.23

Tínhamos a paixão pelo hóquei em patins, pelo futebol e pelo râguebi. Éramos jovens e vivíamos em bando harmónico, que se abria e fechava em grupos mais pequenos para depois voltarmos ao bando, sempre que se justificasse. A paixão pelos carros juntava-nos na serra de Sintra para assistir, sobretudo, ao espetáculo dos Minis a comer as curvas sobre o piso de paralelepípedos. Gostávamos também de passar a tarde de domingo a jogar bilhar ou matraquilhos, a beber imperiais ou cafés, enquanto falávamos de namoros ou das raparigas que nos enlevavam. Eram conversas de tom geral, porque do namoro de cada um ninguém abria a boca. Era pessoal e intransmissível. Durante a semana estudávamos ou trabalhávamos, ou jogávamos nos dois tabuleiros consoante a necessidade das famílias. E havia os bailes ao som de bandas cujo nome se perdeu. As raparigas eram meigas e adultas antes de tempo, usavam uma fita a segurar os cabelos, eyeliner a sublinhar os olhos, rímel e batom. Até que um dia suou um toque de clarim que mobilizou os rapazes para a guerra. O bando desfez-se e nunca mais se reuniu. Ao fim de treze anos a guerra acabou e nada mais voltou a ser como dantes.

Mais sobre mim

foto do autor

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D