Existe hoje em dia uma grande promoção das aldeias tradicionais. Aldeias com casas de xisto, onde dificilmente entra um carro nas suas ruas históricas. Há gente a recuperar essas casas, sobretudo a pensar no turista estrangeiro que percorre todo o país à procura daquilo que é genuíno, tradicional, ou que a publicidade assim lhes vende. Na verdade, observado pelo olhar dos drones, mais que pelo calcorrear das suas ruas e veredas acanhadas, o conjunto de arquitetura simples, empoleirado na aba das serras, cativa, deixa nas pessoas uma imagem de calma, de fruição da natureza, de paz. Não obstante, essas aldeias estão desertas, ou quase, os acessos são difíceis e a caminhada pelas suas ruas íngremes não é fácil, em particular para alguém que decida lá morar em permanência. Claro que há quem veja uma oportunidade de transformar as casas recuperadas em alojamento local. Mas será difícil habitar nessas aldeias. Os tempos são outros. Os jovens têm a sua vida profissional nas cidades e vilas do país, onde existem estruturas de apoio social indispensáveis à vida atual. Não vejo que a beleza do conjunto e a localização privilegiada e agradável seja suficiente para estas aldeias serem mais do que um postal ilustrado, um motivo para visitas turísticas sazonais, uma chamada de atenção num jornal regional, ou mesmo num órgão de divulgação nacional, uma reportagem na TV. As aldeias de xisto são um museu ao ar livre, pouco mais do que isso.