Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Viagens por dentro dos dias

Blog em torno de literatura, arte, viagens, etc.

Blog em torno de literatura, arte, viagens, etc.


24.10.23

Os autarcas são gente com uma grande ânsia de copiar o vizinho autarca. Se um faz uma rotunda, o outro não lhe fica atrás. Se embeleza as ruas com lombas, quase de cinco em cinco metros, o vizinho imita. Se faz um festival literário os outros copiam. Hoje em dia já existem tantos festivais literários e prémios literários promovidos por autarquias, que uma pessoa se confunde. Se existiu lá na terra um tipo que escreveu uns poemas ou meia dúzia de livros, crie-se um prémio literário com o seu nome. Mas o mais edificante são os passadiços. Toda a serra, hoje em dia, tem um passadiço para se admirar a paisagem. Longas línguas de madeira para palmilhar. O problema é que, em minha opinião, descaracterizam a natureza, as serras, a panorâmica do lugar. Os países montanhosos, com paisagens incríveis, não têm destes caprichos, que eu saiba e conheça. E conheço muitos países.


03.12.22

Uma das coisas que me confrange mais na sociedade atual é a existência de pessoas a viver em isolamento completo. Uma pessoa a residir só numa aldeia, num lugarejo qualquer, sem outro ser humano com quem trocar uma palavra, nem que seja a saudação diária, é muito confrangedor. Sobretudo, porque são pessoas entradas nos anos, que não escolheram aquele modo de vida. Aconteceu-lhes por via de uma sociedade que fugiu para os grandes centros habitacionais à procura de emprego, de uma vida melhor. Podem dizer-me que há pessoas que vivem em lares, mas que se sentem a viver em solidão mesmo que rodeadas por outras pessoas. Não é a mesma coisa. Não me perguntem como isto se resolve. Mas sei que há pessoas cuja profissão entronca na resolução de problemas idênticos; e sei que o Estado, por intermédio das suas estruturas sociais devia intervir nestas situações. Parece-me que a GNR faz qualquer coisa nesse sentido, o que é de louvar. Mas não chega. E não se trata, a meu ver, de retirar as pessoas, do lugar onde se encontram, onde nasceram e querem morrer, mas de acompanhá-los diariamente por esse interior desertificado. Talvez fosse possível uma ação conjunta, diária, entre as autarquias e a segurança social, nas zonas onde esses problemas são mais agudos. Claro, é preciso dinheiro e boa vontade.


02.10.22

CM de Salvaterra de Magos.jpg

Segundo escreve o Notícias do Sorraia, as actuais Uniões de Freguesias do concelho de Salvaterra de Magos querem voltar ao modelo antigo. Ou seja, voltarem a ser quatro freguesias. Defendem que assim estão mais próximas das populações. Não sei se estão mais próximo das populações, mas adivinho que se vão abrir oportunidades para mais presidentes e secretários de Junta e das assembleias de Freguesia. É preciso dar oportunidade aos boys regionais. Nos meios pequenos será uma forma de promover o emprego estatal e agradecer aos militantes locais. A Assembleia da República vai dizer de sua justiça. Continuando a ser adivinho parece-me que a proposta irá ser aprovada. Talvez não seja para já, mas em próximas eleições autárquicas. O processo interessa a todos os partidos representados nas freguesias. É a contra-revolução autárquica em nome dos boys?  


07.09.22

 

Oeiras está muito à frente. Este é o novo técnico de higiene exterior com toda a sua parafernália de limpeza. Dá gosto viver numa vila tão práfrentex.

30B40726-AADA-4D34-8FCE-90FCD1108ABD.jpeg

N2 - leia-se Estrada Nacional 2

Uma ideia derrotada à nascença?


13.04.22

Viajando pela N2, agora promovida a passadeira de asfalto turística, com grandes marcos identificativos, que percorri entre São Brás de Alportel e o Torrão, só encontrei curvas e contra-curvas (algumas perigosíssimas e sem resguardo), retas longas e desafiantes, mas nenhum parque onde se possa estacionar e olhar a paisagem, nem WC, nem quiosque para uma bebida, um café, nada. É claro que passei por algumas povoações como, por exemplo, Almodóvar, Castro Verde, Aljustrel, mas ao domingo paira a pacatez alentejana, está quase tudo fechado, é difícil encontrar uma pessoa. Por exemplo, num Intermarché, completamente às moscas, onde parei para fingir que almoçava no bar, apenas deparei com avô e neto, na esplanada, comendo batatas fritas, tendo a escassos metros de distância a carroça com o burro que se deliciava a comer erva. Ou seja, houve uma ideia, cravaram-se no chão uns marcos gigantes de cor amarela, para serem vistos à distância, indicando que nos encontramos na N2, aqui e ali carimbam uma espécie de passaporte (desde que a loja esteja aberta), mas tudo o resto que podia dar corpo a um ideia interessante está por fazer no troço que percorri. Nem se fará, estou certo.


09.02.22

01552DD6-2F6B-4434-BDB6-226B852CA7A5.jpeg

A um poeta maior ofereceram-lhe uma rua menor (as traseiras do Hospital da Luz, com vista para um posto de abastecimento de combustível). Uma rua onde não passa ninguém, apenas um ou outro automóvel. Deve ter sido por distração. Ou por poemas como estes:

Raça de marinheiros, que outra coisa vos chamar,

senhoras que com tanta dignidade

à hora em que o calor mais apertar

coroadas de graça e majestade

entrais pela água dentro e fazeis chichi no mar?

Ou este outro:

 Se a guerra do Vietnam continuar

chegaremos a um ponto em que será fácil organizar

nesse país o censo populacional:

não haverá vietnamitas para contar

E os americanos acharão que não faz mal.


05.12.21

Existe hoje em dia uma grande promoção das aldeias tradicionais. Aldeias com casas de xisto, onde dificilmente entra um carro nas suas ruas históricas. Há gente a recuperar essas casas, sobretudo a pensar no turista estrangeiro que percorre todo o país à procura daquilo que é genuíno, tradicional, ou que a publicidade assim lhes vende. Na verdade, observado pelo olhar dos drones, mais que pelo calcorrear das suas ruas e veredas acanhadas, o conjunto de arquitetura simples, empoleirado na aba das serras, cativa, deixa nas pessoas uma imagem de calma, de fruição da natureza, de paz. Não obstante, essas aldeias estão desertas, ou quase, os acessos são difíceis e a caminhada pelas suas ruas íngremes não é fácil, em particular para alguém que decida lá morar em permanência. Claro que há quem veja uma oportunidade de transformar as casas recuperadas em alojamento local. Mas será difícil habitar nessas aldeias. Os tempos são outros. Os jovens têm a sua vida profissional nas cidades e vilas do país, onde existem estruturas de apoio social indispensáveis à vida atual. Não vejo que a beleza do conjunto e a localização privilegiada e agradável seja suficiente para estas aldeias serem mais do que um postal ilustrado, um motivo para visitas turísticas sazonais, uma chamada de atenção num jornal regional, ou mesmo num órgão de divulgação nacional, uma reportagem na TV. As aldeias de xisto são um museu ao ar livre, pouco mais do que isso. 


03.11.21

Conheço razoavelmente a ilha da Madeira onde estive em várias ocasiões. Fiquei agora a conhecê-la melhor ao assistir a um programa da RTP2 intitulado "As freguesias da Madeira". O programa mostra a ilha fora dos principais centros turísticos, dispersa por 11 municípios e 54 freguesias (uma no Porto Santo). Porquê esse exagerado número de freguesias, algumas com apenas 700 residentes? Houve no Continente uma reorganização administrativa que agrupou várias freguesias. Porque não aconteceu o mesmo nesta Região Autónoma? A principal razão, julgo eu, tem a ver com a unidade administrativa freguesia ter, na ilha, um grande impacto enquanto fornecedora de emprego. Pode-se justificar, também, esse número exorbitante de freguesias num pequeno território com a difícil orografia da Madeira. Mas é aí que este programa da RTP2 nos facilita uma resposta. Alberto João Jardim dotou-a com uma rede viária fundamental para as comunicações em toda a ilha, rasgando espaços, abrindo túneis, construindo viadutos e colocando alguns teleféricos em locais que o exigiam. Circulando por essas vias, como eu circulei, observando do espaço todo esse emaranhado de vias e túneis que ligam com facilidade os lugares mais recôndidos à capital e a outros locais, é difícil justificar, hoje, o exagerado número de freguesias com a acidentada orografia da região. Resta-nos a questão das freguesias serem um importante polo de emprego e dinamização local. Os madeirenses lá saberão o que é melhor para eles. O que não posso deixar de referir é que existia uma ilha da Madeira antes de Alberto João Jardim, e outra depois. Ou seja, passe o exagero, a Madeira é O Jardim.

Mais sobre mim

foto do autor

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D