Marta Temido
Uma mulher valente
31.08.22
Marta Temido não aguentou mais. Foram dois anos a enfrentar uma pandemia demolidora e agora o cerco do lobby da medicina privada a apertar por todos os lados. António Costa é especialista não só a funcionar como esponja que tudo engole, como experto a tirar o tapete aos que lhe são próximos, fazendo-o sempre com um sorriso bonacheirão. O problema do SNS divide-se em duas partes: a primeira, ligada ao contínuo desinvestimento do sector (com algumas excepções) de modo a oferecê-lo à iniciativa privada, a que acresce a fuga de profissionais que procuraram melhores condições de trabalho e salários. Conseguiram melhores salários, mas condições de trabalho é perguntar-lhes que eles respondem calando a voz; a segunda parte vem com a pandemia, um enorme esforço dos profissionais e um gasto económico não expectável. A seguir à pandemia e à vitória retumbante do PS, começa a efervescência da Direita para minar o SNS, a lutar com dificuldades. Marta Temido saiu-se muito bem da pandemia. Mas o não estar disposta a favorecer lobbies privados, fragilizou-a. António Costa só apareceu na época da pandemia (tal como Sua Excelência), porque são pessoas que não andam na vida política para dar borlas. Sozinha, Marta Temido concluiu que o melhor era afastar-se. Sem apoios e com uma tremenda responsabilidade para dar a volta a um SNS como um puzzle a desarticular-se e minado por dentro e por fora, não tinha outra saída. O cansaço também não ajudou. António Costa esfregou as mãos de contente e até talvez tivesse dado um empurrãozinho para a demissão da ministra. Vá lá a gente saber o que vinga na cabeça do primeiro-ministro. Marta Temido foi trucidada pelo sistema e pelos lobbies. Tenho pena. Foi uma mulher de armas, a quem presto a minha singela homenagem. Mas talvez não tivesse outra opção.