05.08.24
Moçambique. Caminho sem destino pelo centro de Lourenço Marques. A guerra instalou-se aqui há muito tempo. Talvez me sente na esplanada do café e peça um uísque com gelo. Está muito calor apesar de ser noite. Sento-me na esplanada, olho à minha volta. Não conheço ninguém, ninguém me conhece. Há um vazio dentro de mim. Não sou daqui, vim do outro lado do mundo onde deixei amigos e família. Fico sentado seguindo o movimento das pessoas. Talvez descubra um amigo, um camarada de armas, que tivesse viajado comigo no barco. Há militares, mas não os conheço. Tomo atenção às conversas das pessoas que ocupam as mesas ao lado. Falam de basquetebol, ao que me apercebo. Prefiro futebol. Decido ir para casa esconder o sono na almofada da cama. Apanho o machimbombo que sobe as ruas deixando para trás um rasto de fumo negro e uma trepidação de carro velho. Desço à boca do bairro indígena, mas não me aventuro por aí, vou para a flat pela rua paralela ao bairro, onde me espera uma osga no canto da parede e um morcego pendurado na corrente da banheira. Podia ser pior.