01.09.24
— Se fôssemos muito amigos poderíamos trabalhar para endireitar o mundo.
— Isso é o que tu dizes. Era preciso muita força. O mundo não se endireita com uns ramos de flores ou com um abraço.
— Pois não. Tem de ser com muita força. Talvez mesmo à paulada.
— À paulada não é jeito de se fazer nada de bom.
— Mas com rezas também não. Olha lá os padres, a rezar noite e dia, e o mundo está cada vez mais torto.
— Talvez tenhas razão. Mas eu não me meto em política nem em religião.
— Porquê? Tens medo que te apalpem a bochecha?
— Não tem nada a ver com medo. A política e a religião são temas para iniciados. Não vês os padres que antes de o serem têm de frequentar o seminário? E os políticos têm de frequentar as juventudes partidárias.
— E daí?
— Daí que juventudes partidárias fazem-me lembrar as juventudes hitlerianas e a Mocidade Portuguesa, masculina e feminina. Nada de misturas para a vida não se contaminar.
— Tens pinta de político, mesmo que negues: discursos ocos e redondos.
— Estás parvo, ou quê?
— Pode ser que sim. No entanto, mais vale um parvo na mão que dois a voar, não é o que dizem?
— Não, não é o que dizem. Confundes tudo.