Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Viagens por dentro dos dias

Blog sobre tudo e sobre nada. Em particular em torno de literatura, arte, viagens.

Blog sobre tudo e sobre nada. Em particular em torno de literatura, arte, viagens.


28.04.24

Cada viajante constrói, das cidades que ama, uma ideia que raramente coincide com a lógica da geografia urbana. Na sua forma de amar uma cidade, desenha percursos, associações imaginárias, mitos instrumentais que o fazem ver as fachadas, os monumentos, as praças e as gentes de uma determinada zona como os melhores sinais identificadores do espírito do lugar. A sua noção de geografia é essencialmente afetiva, as suas preferências não são racionais e, por isso, essa zona eleita figura no seu espírito, e para sempre, como  o centro da cidade.

António Mega Ferreira in Roma, exercícios de reconhecimento, 2.ª ed., Sextante Editora, 2019


28.04.24

No bairro acontecem coisas estranhas, daquelas que as pessoas adjetivam com a palavra estrambólicas. Não se trata de gatos a miar à lua cheia, ou de cães a ladrar quando ouvem barulhos que não controlam, nem de vozes que chegam do Além, que atemorizam mesmo os intimoratos domadores de leões nas selvas das cidades. Não, não é nada disso. São mesmo coisas difíceis de explicar. É o que diz a menina Eva, locatária do 2.º andar do prédio construído por um pato-bravo nos anos 70, ali para os lados da Brandoa. Ela houve expressões de amor, de alegria, de felicidade. Porém, só ela é que ouve coisas bonitas. Os outros queixam-se do catarro do senhor Bentes, das discussões dos Flores, da música em altos berros expelida através da janela aberta de um brasileiro fã de Elba Ramalho. E há também os bebedores de minis da taberna do rés-do-chão do prédio, que discutem futebol como se estivessem no estádio a invetivarem os jogadores da equipa contrária. Mas nada disto é estranho num velho bairro onde moram reformados de fábricas, doentes crónicos, drogados, bêbados e mulheres com cortes de cabelo masculino, para mais facilmente lavarem a cabeça em casa. O que é mesmo estranho é o senhor Belarmino teimar que aterram OVNIs no seu quintal desde que viu o filme ET cinco vezes na televisão. O senhor Belarmino tem 100 anos. Pode dizer o que quiser. A Polícia já foi chamada várias vezes e não constata nada de estranho. Quer dizer: a existência de OVNIs. O que a Polícia estranha é a menina Eva ouvir expressões de amor, de alegria e de felicidade no meio da algazarra geral do prédio. A menina Eva já foi levada por duas mulheres-polícias para uma conversa informal na esquadra. A Polícia está desconfiada que na casa dela funciona um bordel. Não um bordel qualquer. Um bordel em que mulheres desocupadas e com maridos ausentes, em viagens de negócios, recebem rapazes que passam as manhãs a exercitarem-se num ginásio e as tardes a distribuir felicidade a preços exorbitantes. A Polícia diz não ter provas de nada. Talvez não as procure, diz Dom DeLucas, o poeta do bairro, que leu todos os livros de Charles Bukovski. Também é muito estranho que a menina Eva conduza um Mercedes descapotável, embora démodé, e passe as noites fora do bairro, numa moradia apalaçada, servida por uma criada praticante de wrestling. Também são estranhos os comentários sobre a menina Eva ter um caso com o chefe da esquadra que superintende no bairro. Todos sabemos como é o povo para inventar boatos. Mas há sempre verdades escondidas, como o bicho na fruta.

© António Garcia Barreto


25.04.24

O Mediterrâneo é a pátria da beleza. Mar, oliveiras, ruínas, portos, faróis antigos, ilhas, mitos, navios - e uma raríssima sabedoria.

in contracapa do livro de MATVEJEVITCH, Predrag, Breviário Mediterrâneo, Quetzal Editores, 2019

25 de Abril, 25 de Novembro

Liberdade. Ontem, hoje e sempre.


25.04.24

7E33E0D7-A999-42B6-9DA2-AEA6F1CC21A9.png

Uma democracia imperfeita como tudo que o ser humano constrói, mas incomparavelmente melhor do que qualquer ditadura, mesmo que travestida de novidade. Liberdade e democracia, democracia com liberdade.


20.04.24

Um leve tremor precede a madrugada

Quando mar e céu na mesma cor se azulam

E são mais claras as luzes dos barcos pescadores

E para além de insónias e rumores

A nossa vida se vê extasiada

 

Sophia de Mello Breyner Andresen in ILHAS, Caminho, 2004

Lá vamos, cantando e rindo

levados pelo pobre destino


14.04.24

Somos um grande pequeno país, que os políticos estragam, sempre a falar no futuro com os olhos colados ao passado. Passam a vida a acelerar, mas em marcha atrás, o que tem limites e é perigoso. Um passo à frente, dois passos à retaguarda. Às vezes, vem uma revoada de esperança, que logo depois desaparece. A ninguém se agradece. É destino.

O logotipo de Portugal

Vitória de Pirro


05.04.24

É por estas e por outras que Portugal andará sempre a reboque de outros países, sem conseguir um ponto de equilíbrio que nos defina e que obste a guerrilhas inúteis. Sai um governo e vem outro, mudam aquilo que é fácil deixando para as calendas o que é difícil, exige saber e capacidade de trabalho. O governo teve a primeira vitória: mudou o logotipo do país. Uma vitória de Pirro. É nisto que a Direita é especialista: andar dois passos para trás quando os outros deram um passo em frente. Aprendam a dialogar uns com os outros, a construir os mínimos nacionais, como fizeram outros países, como a Finlândia, por exemplo. A política não é o derby Benfica-Sporting. Os cidadãos não são claques. O país não é um estádio de futebol. Digo eu, que gosto muito de futebol.

Mais sobre mim

foto do autor

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D