Para hoje temos um romance intitulado Querubim, o Filho da Puta. É da autoria de António Garcia Barreto. A edição é da Guerra e Paz. Este exemplo, esta sugestão de leitura para este tempo, para este verão, dá pretexto para confirmar e ver o seguinte: como é a vida literária e editorial em Portugal. Alguém procura este autor? Alguém lê este autor? Tirando talvez os amigos e os familiares poucos conhecerão António Garcia Barreto. Serve para dizer que o meio editorial português todo ele é feito de pecadilhos, pequenas invejas, rancores, esquecimentos, velocidade, tudo adiante que atrás vem gente e este já não interessa, é descartável. Mas se vos disser que este é um dos casos de maior injustiça e apagamento que se fez nos últimos anos em Portugal; o desinteresse total por um autor é algo a bradar quase ao vento ou aos céus.
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António Garcia Barreto teve livros importantes sobre a literatura infanto-juvenil, os ensaios, livros maravilhosos, encantadores e encantatórios para os mais novos, na Ambar, na editorial Ambar, e depois também excelentes romances, bons romances em outras chancelas, como é o caso da Campo das Letras, mas já lá iremos. António Garcia Barreto, ele nasceu na Amadora em 1948, no dia 15 de dezembro, é licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, esteve como militar na guerra colonial, foi livreiro, gestor de recursos humanos e diretor de pessoal. Colaborou com vários jornais, o Notícias de Lourenço Marques, o Diário Popular, o República e também nos suplementos O Pimpão e O Pontinho, daqui o seu gosto pela literatura infanto-juvenil. Esteve nos anos 80 na criação e dirigiu A Oficina do Tio Lunetas, no Notícias da Amadora, um suplemento também para os mais novinhos, se quisermos. O seu conto O Minuto Mágico foi distinguido no Prémio Literário Hernâni Cidade, da C.M. do Redondo, e na Campo das Letras - e aqui estamos nós em 2005 - o romance Ensina-me a Namorar. E em 2006, sobre a guerra colonial, o romance À Sombra das Acácias Vermelhas. Tem já deste ano de 2023, O Regresso do Primo Basílio. Este é um policial.
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João do Passos (protagonista de Querubim, o Filho da Puta) está em França, mais precisamente em Annecy, e embate de frente com Malvina Bleck, uma suposta hospedeira de bordo. A mala que arrasta Malvina Bleck é de uma empresa ou de uma grande transportadora aérea. Malvina convida João dos Passos para Londres. O nosso amigo hesita bastante, mas o canto da sereia é tão afinado e melodioso, para além dos ouvidos rebenta-lhe com o cérebro e com o coração. E ele vai, vai, e é a partir daqui, do mundo da criminalidade, o mundo daquilo que são os negócios mais obscuros e escuros da arte em Lisboa, vai perceber qual é a sua missão, o papel que terá de desempenhar João dos Passos junto de Malvina, porque também é fácil de perceber, que quadros e esculturas não cabem na mala da nossa hospedeira. E é aí que entra o coração, o amor, e o amor quando entra, como se sabe, ai, ai, que são elas, e a casa começa a abanar e de que maneira.
A afirmação de um excelente autor, descubram-no aqueles que não o conhecem. Quem conhece, esperemos que haja alguém, aprecie esta escrita maravilhosa num português escorreito e em alta velocidade, que, garanto-vos, depois da primeira página é de um folgo só. Uma maravilha.