11.10.21
Sendo Portugal um país de poetas, como é vulgar afirmar-se, temos de considerar que a poesia encontrou na tugalândia um bom campo de semeadura. Porém, esse número crescente de assumidos poetas, que surgem devido a um maior índice de escolaridade, sobretudo entre a pequena-burguesia urbana, não é apenas uma realidade portuguesa. O que sobressai dessa poesia é precisamente não o ser. A verdade é que escrevem prosa cujas frases cindem, separam, transformando-as aparentemente em poesia. Falta-lhes o conhecimento da prosódia, ou seja o estudo dos sons da fala, do ponto de vista da acentuação, entoação, duração. Aqueles que se pretendem assumir como novos poetas não podem esquecer que à poesia está subjacente a vocalização das palavras, de acordo com acentuação e a sua quantidade. Não basta partir as frases, é preciso vesti-las de metáforas, dar novo sentido às velhas palavras e imagens, conferir musicalidade ao verso, apostar na acentuação e entoação das palavras. Só assim teremos poesia. De contrário estamos no reino da prosa.